Poema em três partes

O despertar do sono da morte em terras abissais

Quando levantei estava imundo

Com o corpo aberto e ferido

Num local fétido e profundo

Jogado como réu punido

Desperto do sono da morte

Ladeado de corpos cambaleantes

Deixado a própria sorte

Maldições e gritos ululantes

Rasgo minhas mortalhas

Minha pele seca e dilacerada

Cortes profundos de invisível navalha

Minha esperança jaz soterrada

Recolho-me no resquício de sanidade

Céu negro, penumbra viscosa

Sol rubro sem luminosidade

Será punição a uma alma belicosa?

O Despertar e a crisálida de ódio

Enclausurei-me numa redoma

Meus pensamentos e meus vícios

Minha ruína, meu carcoma

Meu tortuoso caminho ao precipício

Nesta crisálida amaldiçoei

Tornei-me réu, júri e juiz

Minha condenação lamentei

Ignorando minha alma pecatriz

Onde estive Deus nesta purgação?

O ódio jorrava a cada grito

Visco tomando meu coração

Que extasiado, cai aflito

E uma luz tão translúcida

Cega meus olhos momentaneamente

Afastei-me com imensa dúvida

A praguejar intensamente

O Real despertar

Vi-me tomado em braços amorosos

Embalado como numa cantiga

Senti afagos tão calorosos

E várias presenças amigas

Minha mortalha já não existia

As chagas de outrora cicatrizadas

Deitado num local que desconhecia

Minha mente estava reorganizada

Neste local de luz apaziguante

Celebra aos filhos que retornam ao lar

Reergue-os com amor vibrante

Somos rios em busca do mar

E lá, pude renascer nos braços do Pai

Entre milhões de irmãos como eu

Inundados pelo brilho que não se esvai

Pois a morte jamais aconteceu

Eduardo Benetti
Enviado por Eduardo Benetti em 17/04/2016
Código do texto: T5608087
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