O LIVRO DA VIDA
Eu me chamo Lineu,
E venho de outras eras.
Depois de passar por muitas primaveras,
Trago no corpo astral que à morte sobreviveu
As marcas seculares tecidas pelo tempo,
E nos cadernos empilhados no coração
As poesias escritas pelo sentimento.
Já não pertenço a este mundo feito de ilusão,
Ao encontro eu fui do primitivo lar;
Lá não existe pertencimento,
A liberdade está no infindável cavalgar
Das horas, na essência do momento.
Quando por este mundo de enganos passei,
Escravizado eu vivi pelo poderoso cifrão ($),
Mas esta convenção social não pôde comprar
O manancial de liberdade que sempre desejei.
No livro da vida, eu escrevi tristonho
O epílogo da minha curta existência carnal;
No livro da eternidade, eu escrevo risonho
Uma longa história que não tem final.
Aqui não preciso falar,
O pensamento é a minha fala,
E tudo em mim agora declara
O quanto amo me amar.
Não carrego moedas na carteira
— O Universo é a minha feira —
Toda a riqueza que trago comigo
É a doce saudade dos amigos
Que nesta triste masmorra deixei
Quando dela alegre me livrei.
E se outras verdades jazem
No eterno livro da vida,
Que me digam
E me falem
As estrelas que cintilam
Nas imensidades infinitas.