Crepúsculo sangrento

Entardecer

Quente, o pomo dourado escorre no horizonte.

A luz enlaça e agarra ao cume de um monte;

No domo de cristal do firmamento avisto

um trono de safira onde não senta o Cristo.

O trono, de cor rosa-alaranjado, brilha,

o céu, com esses tons, parece que fervilha;

O cristal se dispersa em ondas azuladas

de amplitude letal, e cristas congeladas.

Noite

O vale da onda toca o solo amargamente,

faz emergir da terra uma ancestral serpente

cujo silvo desperta os animais malditos

e, no escuro do céu, pontos claros, aflitos;

Mas do oceano emerge, entre bolhas e espuma:

Vênus! Sob holofote intenso: rasga a bruma.

E do covil macabro a escuridão transborda,

vomitando a escória, a amaldiçoada horda.

Estrelas

São magníficas quando a cidade escurece

e brilham sutis quando o vaidoso sol nasce...

Estrelas: traficante, herege, puta... Vida!

Afogada no escuro e por Deus esquecida;

Banshees de grito mudo, olhos tristes, secos...

Ocultos sob a luz amarela dos becos...

Quando a Discórdia nasce, altiva, dum aborto,

é quando o vivo se curva e comunga com o morto.

Madrugada

Agora não há mais resquício do trono de safira, talvez você encontre os cacos por aí...

alizu
Enviado por alizu em 18/06/2020
Reeditado em 18/06/2020
Código do texto: T6981428
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