AS SERPENTES E A NOITE

Tanta areia, tanta estrela

Tanta fome que as serpentes

Viajaram pra longe da gente

Foram em direção ao céu

Girando, buscando, girando

Elas encontram o seu papel

Morde o próprio rabo

E devora a noite

E guarda as estrelas no seu olhar

Na terra um bravo índio

Vem reclamar

Querendo novamente a noite

Pra descansar

E a serpente mesmo valente

Não aceita o arco e a flecha

Como troca

Ela quer algo melhor

E aceita numa bandeja

Um chocalho

Que logo, logo

O prende no rabo

E em troca ela

Devolve uma noite apenas

Mas como isso não resolveu os dilemas

O índio corajoso

Pegou das mãos do pajé

O veneno poderoso

E trocou esse veneno

Por um saco de ventos

Que tinha dentro a escuridão

Mas sem as estrelas

Que ainda estavam no olhar

Ele então tinha que salvá-las

Já que tinha tanta areia

Perto do mar

Ele resolveu desenhar

A serpente mordendo o próprio rabo

E lá do alto a serpente

Ficou encantada

E pouco a pouco

Foi devolvendo as estrelas

Numa lágrima

05/09/04