VERSOS DE SETEMBRO
Em minha obsessão pelo conhecimento... fui levado para longe
Quase tragado, quase um náufrago tresloucado
Era desencanto, desalento, pranto, folha seca ao vento
Era fraco, franco, fácil, tacanho, estranho
Era ovelha sempre fora do rebanho
E, estando à margem, era marginal
Eram mil viagens pelo espaço sideral
Eu era poeira, mineral, estrela, átomo e palavra
Versos de navalha, fogo, torpor, fumaça, frio
Era um pobre menino enclausurado no quarto escuro da mente
Querendo um abraço, um lenço, um aceno, um cântico, um mantra
Era solitário, livre, libertário, revolucionário das quinquilharias
Cristalizado nas horas,
No olhar lúgubre e no verso do poeta
Petrificado na cinza, na esquina do tempo, do tormento
Esperando o trem, a nave espacial... (ou quem sabe, dos céus, um sinal)
Era surreal, gutural, sepulcral, imortal no intento
De escrever o nome no rol dos cavaleiros das eras eternas
Não havia inferno
A não ser este:
De intrigas
Misérias humanas
Atitudes insanas
Dos homens hipócritas
Dos avaros que cantarolam hinos
Dos malvados que carregam o Santo Livro
Debaixo do braço
Tão secos quanto o rei do cangaço
Meus pensamentos eram estardalhaços
Alaridos galopantes, desvarios sibilantes
Nas noites, nas esferas da percepção alucinante
Foi então que, caindo ao chão, em dias negros
Sem dor, sem dó, sem medos
Ele me deu visões, sonhos, desapegos
Atendi ao Seu chamado
Hoje, ainda sofro, por vezes, calado
Mas já estou amalgamado na fé
Agora já é.
É Deus na minha vida. Me ajudando a vencer a mim mesmo
E me fazendo acordar sem querer cantar aquela canção...
"Tem uns dias... que eu acordo... pensando e querendo saber//
De onde vem... o nosso impulso... de sondar o espaço//¹.
NILVAN OLIVEIRA - POETA QUE ESQUECEU A POESIA NA GAVETA.
REFERÊNCIAS:
¹ERRARE HUMANUM EST - Jorge Ben Jor, com brilhante interpretação de Zé Ramalho.