A passagem

Dentro de mim era um sentimento sem fim

Ouvia acima da minha cabeça crocitando e se debatendo

Aves em movimento, e eu olhando fixamente para aquela comida

Não dava a mínima para o que estava acontecendo a minha volta

Eu sentia fome, mais não era uma fome comum

Aquela comida ácida, podre e cheia de vermes simplesmente me fascinava

Uma eternidade se passava na minha frente diante daquela refeição

Eu ali suja e quase submersa em imundícias

Ecoava ao longe vozes de lamento

Almas assim como a minha estavam sendo consumidas por vermes

Mais aquele músculo mal cheiroso, cheio de vermes me atraía

Eu sentia dores fortíssimas pelo corpo

Haviam seqüelas

A passagem me deixou chagas abertas, sangrentas e fedorentas

Nada é muito claro em minhas memórias

Eu só sei senti-las

São sentimentos mesclados de muito querer

Teria eu feito a passagem por sentimentos assim?

Rita Fonseca