CONFISÃO DE UM TRAIDOR. A poesia de Padre Fábio de Melo

Se eu tivesse tido forças pra voltar

Se as moedas não pesassem tanto em mim

Se eu procurasse por você

Fizesse o que fez Cirineu

Se eu lhe acompanhasse

Se eu tivesse me encontrado com você

Com outro beijo lhe pedisse o seu perdão

Se ao menos outra vez

Eu pudesse lhe dizer: muito obrigado!

É tão bonito, ah é tão bonito

Quem tem a chance de olhar a quem traiu

E ainda que seja no momento

Derradeiro reencontrar

A alegria de ser fiel até o fim

É tão bonito, ah é tão bonito

Quando recordo o seu jeito de viver

O seu sorriso, sua voz, seu ombro amigo

E o seu olhar me sustentando

Até na hora em que o trai!

Se eu tivesse acompanhado a multidão

Chorado a culpa junto ao colo de sua mãe

Se eu ficasse por ali, permanecesse com você

E assim, quem sabe

Estendendo um copo d'água pra você

Dividindo a dor da última lição

Eu pudesse refazer, meu quebrantado coração

Aos pés do seu calvário

É tão sofrido, ah é tão sofrido

Não ter a chance de olhar uma outra vez

Pedir perdão e no entrelaço de um abraço

Chorar a dor de não ter sido o seu amigo até o fim

É tão sofrido, ah é tão sofrido

Trazer na boca o gosto da condenação

Nó na garganta e o desejo inconfessado...

Que se eu pudesse voltar no tempo

Lhe encontraria e subiria com você

Que se eu pudesse fazer de novo

Mudar a história eu morreria com você.

Antônio Oliveira
Enviado por Antônio Oliveira em 21/05/2009
Código do texto: T1606595