A NEGAÇÃO DE PEDRO!

Como permites deixar-se praticar este gesto ridículo

Como escravo vulgar?

Sentencia, o velho pescador Pedro, vendo Jesus exemplificar

O incompreensivo ato da lavagem dos pés dos discípulos.

Um olhar de repulsa e desprezo

Lança à todo o grupo de simpatizantes.

___Jamais permitirei expô-lo à esta atitude tão degradante!

Submissão que esmaga a criatura com seu peso.

Reflexivo ante o manifesto de Simão

Assevera sobre a caridade, a igualdade que o apostolado exigia

___Refratário, diz, ausenta-te da redenção da suprema alegria!

Celando a voz inocente do generoso amigo no final da lição.

Anunciando chega sua hora derradeira

Prevê a ausência de seus seguidores no momento crucial

O despreparo inerente sendo o motivo principal

Legando à todos o ensino essencial da virtude verdadeira.

___”Amai-vos como vos tenho amado

Que as diferenças não sejam a origem das retaliações

Que o reconhecimento venha pela humildade e pelas boas disposições

O sacrifício próprio de um coração abnegado”.

Irrequieto, Pedro exclama presumindo despedida:

___Mestre, anseio acompanhá-lo, para onde seus passos seguirão?

___Construir, diz o Mestre, tua fortaleza interior e a tua dedicação

Serão o teu passaporte como discípulo a caminhar comigo, mas que só o tempo consolida.

___Por ventura não reconheces a minha coragem de homem que sou,

Capaz de dar minha vida em tua defesa:

Sorrindo, Jesus pondera exibindo sua humilde nobreza:

___Tu aprenderás por outras experiências a refletir melhor na conclusão a que chegou.

___Por três vezes, anuncia o Mestre, irás me negar antes do dia romper

___Julgas-me, rebate Pedro, leviano e tão cruel a semelhante procedimento?

___Não, Pedro, teu bom e dedicado coração absorveu meus ensinamentos,

Porem aprenderás também que o perverso é antes de tudo uma frágil criatura a instintivamente se defender.

No exato instante da prisão de Jesus

Pedro recua no testemunho da defesa dos princípios cristãos.

E, reativo, desembainha uma espada e suja sua mão,

Ferindo o inimigo, manchando sua alma, enfraquecendo sua luz!

Reprovando sua ação com veemência

A humildade demonstrada pelo Mestre desaponta e causa espanto

Dispersando, como previsto, aos de restrita compreensão e que, portanto

Continuariam reagindo provocando mais violência.

Encerrado em cela úmida sob o olhar

Inquisidor a turba aglomerada em pátio ao lado

Jesus digeri impropérios, zombarias, sempre calado

Enquanto Pedro sentia a hostilidade e o desafio que teria de enfrentar.

Angustiado, duvidoso e cogitando punição

Frente as expectativas da escolha, se repele

Resoluto em salvaguardar a própria pele

Iniciando assim o triste processo da negação!

___Tu és companheiro do encarcerado?

Exclama alguém destacado dos demais.

Preservando a intenção do auxílio, Pedro dá o primeiro passo atrás:

___”Não sou”! Tu estás enganado!

Esquivando-se dissimulado, logo é novamente reconhecido:

___Eis aí teu Mestre! Então não vieste em tua ajuda?

Num duelo entre o coração e a razão experimenta que a teoria na prática às vezes muda,

E perturbado de infinita angustia diz ressabiado:

___Nunca fui discípulo deste homem não!!

___Como negas, és aquele que com tua espada nos feriste! Acusa o outro vingativo.

___Estás equivocado, companheiro. Seria incapaz de gesto tão reativo.

E entre as grades da humilhante prisão, Mestre e discípulo dialogam com os olhares àquela revelação.

A ave de canto estridente

Anuncia o fim da madrugada

E Pedro de alma inquieta e dilacerada

Recorda o Mestre preconizando seu gesto lamentável e incoerente.

Um véu de lágrimas arrependidas desce à face copiosamente

E numa visão confortadora e inspirada Jesus aparece

E a suplicar-lhe a afetuosa mão do Mestre ante a queda dolorosa murmura uma prece:

___Senhor, perdoai esta frágil criatura igual à tanta gente!

Refeito do êxtase, olha a lua à banhar a paisagem

Refleti sobre as advertências de Jesus num pensamento profundo:

___Pedro! é mais frágil do que perverso o homem no mundo

E como dileto discípulo guarda para sempre o aprendizado desta sublime mensagem.

Néo Costa
Enviado por Néo Costa em 14/08/2011
Código do texto: T3160238