DEUS

Um dia consultei aos homens sábios,

Que discutem a terra, o ar, os céus,

Folheai os vossos velhos alfarrábios e,

Dizei-me inconscientes, existe Deus?

Spinoza me fitou e disse, creio na causa.

Nem eu, nem ninguém disse Baudelaire.

e num sorriso, com uma pequena pausa,

Juro que não há Deus, disse Voltaire.

Debrucei-me a um abismo e disse a terra:

Existe Deus, ó terra?

E a terra oca, em cujo seio a lava e o fumo encerram,

escancarou do abismo imensa boca.

Subi a um penedo e disse ao mar,

Existe Deus, ó mar?

E o mar em prantos, vagas e vagas vinham me atirar;

Bramindo-me de ira e enchendo-me de espanto.

Volvi o olhar ao lindo céu vazio e,

Disse ao céu: existe Deus, ó céu?

O céu bendito turbado da pergunta,

Pasmo abriu-me os grandes olhos de astro ao infinito.

E assim, fiz ao vento que zombando fugia;

Depois a uma ave e a um vaga-lume;

Por fim, falei a flor desabrochada e ela em resposta,

Deu-me o seu perfume.

Então mergulhei em fundas cismas,

na dúvida mais triste, e o coração me disse:

Em que te abisma, não sejas louco,

Deus o eterno existe!