EU NÃO QUERO SER PINÓQUIO

Eu não quero ser Pinóquio

Jorge Linhaça

Eu nasci de carne e osso

com sonhos e fantasias

mas o mundo é guloso

e anda sempre sequioso

de juntar-me às maiorias

Na escola o a-be-cê

já vem no confinamento.

Só é burro quem não lê?

Ora, mas veja você,

criam cabeças de vento.

Mas nem se pode culpar

a figura do professor

É tanto papel pra entregar

tanta coisa a o massacrar

que interfere no labor

Entram na escola meninos

saem bonecos de pau

dia a dia assistimos

(e nos erros persistimos)

a esse triste final.

Massificar não ensina,

nem matar as fantasias.

Entre Pinóquio e Emilia

prefiro as estripulias

da boneca maluquinha.

Recuso-me a ser boneco

eu quero mais é ser gente.

Há que ache que está certo

sufocar o intelecto

na criança tão latente

Amarram os professores

na mesmice eternizada

são como os velhos feitores

a gritar seus dissabores

impedindo a alvorada.

Quem é boneco de pau

sufoca toda esperança

O novo parece-lhe mau

um pecado capital

é avesso às mudanças

Tantos pinóchios gerados,

bonecos privados dos sonhos,

no poder entronizados

pelo mundo espalhados

a achar-se o summum bonum

A criança que não sonha

privada das fantasias

é criação tão bisonha

que já não há quem a ponha

a ser pensante um dia.

Eu quero ser Peter Pan.

Deus me livre de crescer!

Quero acordar de manhã

co'a poesia minha irmã,

sonhar enquanto viver.