BERLINDE

Era uma vez uma pomba

Sem um ninho, sem um pombal,

Era branca como a Lua

E os seus olhos de cristal.

Era uma vez uma pomba

Que não sabia chorar:

O seu choro trrru… trrru…

Era um modo de cantar.

Era uma vez uma pomba

Que noite e dia voava:

Fosse noite, fosse dia,

Nunca a pomba descansava.

Era uma vez uma pomba

Que nos céus, longe, voava,

Seu coração um berlinde

Grande segredo guardava.

Era uma pomba tão estranha

Que voava noite e dia:

Quanto mais alto voava

Mais da terra ela se via.

Era uma vez uma pomba

Com penas de seda real:

Era uma pomba do Mundo

Com seus olhos de cristal.

Seu coração um berlinde

De vidros de sete cores,

Que do sol tinha o brilhar,

Um espelhinho de mil flores.

Um dia longe nos céus,

Viu um menino a chorar

Sentadinho sobre um monte,

Numa noite de nevar.

Não era branco nem negro

Assim na neve o menino,

Seu chorar era triste,

Tornava-o mais pequenino.

E a pomba logo o viu

Com seus olhos de cristal:

Logo desceu para o monte

– Era aquele o seu pombal.

Poisou nas mãos do menino

Com seu corpo, seu calor:

Mãos por debaixo da neve,

Ninguém lhes sabia a cor.

Dorme, dorme, meu menino…

Branco ou negro tanto faz:

Meu coração é um berlinde,

Tem o segredo da Paz.

E o menino já ria,

Podia dormir sem medo,

Sonhava com o berlinde,

Coração feito brinquedo.

Há quem diga que uma estrela

Fugiu do céu a correr,

Atravessou todo o mundo

Para o segredo dizer.

Escutaram-na os meninos,

Têm um berlinde na mão:

Seja noite de Natal,

Seja noite de S.João.

Matilde Rosa Araújo

(Poeta/Escritora Portuguesa)

MATILDE ROSA ARAÚJO
Enviado por CEMD em 12/03/2013
Código do texto: T4184682
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.