NAS PLUMAS DA NOITE
Nas catacombas da noite
Quando todos dormem
É hora das bruxas
Montarem suas vassouras
*
Enquanto a lua redonda
Faz a sua ronda
Andam as bruxas pelo milharal
Catando abóboras pelo capinzal
*
Ao redor do espantalho
Falam língua de papagaio
Que só bruxa conhece
Em nenhum livro aparece
*
Calçam botas de couro de cobra
Tem narizes de batata
Uma cara de lua cheia
E telha de aranha nas gadeias
*
Ficam a maldizer as fadas
De vagalume disfarçadas
Que sempre semeiam flores
Na plantação de gengibre
*
Vão encher um tacho
Com água do riacho
Infestada pelos sapos
Prá ferver caldo de alho
*
Ficam a trançar vassouras
Com plumas das corujas
Juntando cactos e minhocas
Para rechear vidros de compota
*
Misturam uma arjunça
Com extrato de urtiga
Gergelim e cipó milhome
Prá encantar o lobisomem
*
E no último raio da lua
No piado das corujas
Montam nas vassouras
E somem numa ventania de folhas
*
E ainda não se sabe
Qual foi o animal selvagem
Que andou pelo milharal
Se foi o bicho folharal
Prá deixar tanta marca
E faltar tanta abóbora.
* * * * * * * * * * * * * * * *