O UNICÓRNIO DA LUA
No fundo da brenha
Ardia um monte de lenha
No tapume da cantua
Aquele luzilume da lua
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Fervia o corrupio
De fio a pavio
No antro das corujas
A catira das bruxas
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No zumbido da mutuca
Esticavam a cumbuca
No espeto,uma lagartixa
Embalsamada com oliva
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Por causa do cherume
Os morcegos no bafume
Cata-cegos no pretume
Crixavam amarume
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Na cova do banhado
Sapos refestelados
Não calavam a tramela
De medo de frigir na panela
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Na forquilha da Cabriúva
E ramaria da Catanduva
Chilravam araramboias enroscadas
E tarântulas penduradas
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E o bruxedo num corcovo
Torrando cogumelos venenosos
Remexiam na caldeira brava
Com uma vassoura de palha
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Adentrou-se na mata
Um unicórnio cor de prata
Com um corno de marfim
Vindo dos corunfins
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Uma bruxa montada
Pisoteando nas abóboras
Cavalgava no lombo
Ao largo uivo dos lobos
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Em volta do jirau
Estaqueados nos paus
Espetados dentes de alho
Galhos de arruda e cactos
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Quando virada a lua ia
Retrucando a cotovia
Antes da chegada dos pisa-flores,
Num saracoteado boléu
Cavalgaram na via do céu
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E as marcas das patas
Achadas na mata,
Qualquer assombração que apareça
Leva sempre culpa a mula sem cabeça...
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