A MORTE DA CIGARRA
Se sacodia a cigarra
Na folha pendurada
Despencou prá baixo de pesada
E lá ficou estirada
Apareceu de vereda
Zumbindo uma abelha
Com uma gota de mel na pata
Prá reanimar a coitada
E não adiantou de nada
Uma borboleta revoava
Fazendo vento com as asas
Como um leque abanava
Nenhum efeito surtia
Para a doente ficar sadia
O gafanhoto bondoso
Veio prestar socorro
Coberto de compaixão
Tratou de fazer um caixão
De folha de açafrão
Um grilo faroleiro
Saltando o tempo inteiro
Tecia uma guirlanda de margaridas
Para enfeitar a bela-adormecida
O vagalume deseperado
Foi buscar o louva-deus
Para encomendar um lugar no céu
Prá mais uma alma que feneceu
Então catou uma folha a formiga
Onde uma gota de chuva pendia
Pingou na face da cigarra
Que reviveu na mesma hora
Feito uma rosa
E nenhum percebeu nada
Que a cigarra mascarada
Tinha se passado por morta de danada
Só prá ser bem tratada
-Que cigarra mais tinhosa!