A MORTE DA CIGARRA

Se sacodia a cigarra

Na folha pendurada

Despencou prá baixo de pesada

E lá ficou estirada

Apareceu de vereda

Zumbindo uma abelha

Com uma gota de mel na pata

Prá reanimar a coitada

E não adiantou de nada

Uma borboleta revoava

Fazendo vento com as asas

Como um leque abanava

Nenhum efeito surtia

Para a doente ficar sadia

O gafanhoto bondoso

Veio prestar socorro

Coberto de compaixão

Tratou de fazer um caixão

De folha de açafrão

Um grilo faroleiro

Saltando o tempo inteiro

Tecia uma guirlanda de margaridas

Para enfeitar a bela-adormecida

O vagalume deseperado

Foi buscar o louva-deus

Para encomendar um lugar no céu

Prá mais uma alma que feneceu

Então catou uma folha a formiga

Onde uma gota de chuva pendia

Pingou na face da cigarra

Que reviveu na mesma hora

Feito uma rosa

E nenhum percebeu nada

Que a cigarra mascarada

Tinha se passado por morta de danada

Só prá ser bem tratada

-Que cigarra mais tinhosa!

NACHTIGALL
Enviado por NACHTIGALL em 12/04/2015
Reeditado em 16/04/2015
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