A MORTE DO BEIJA - FLOR

Recortando heras e trevos

Ante o pé do cogumelo

Achou a formiga

O beija-flor sem vida

*

Caíu a abelha numa zumbideira

Igual apito da chaleira

Chorava a cigarra

Borrifando as folhas com água

*

A borboleta inconformada

De asas abotoadas

Prá escapar da dor

Se socou dentro da flor

*

Tratou o joão de barro

De catar plastas de barro

Prá construir o atáude

E repousar o cadáver

*

Trouxe o sabiá de pronto

Uma casca de ôvo

Prá servir de lápide

Memória da pobre ave

*

Batia o pica-pau

Numa lasca de pau

Esculpindo o nome

"Príncipe das flores"

*

Levava o defunto o tucano colorido

Por ter o bico mais comprido

Enrolado em pétalas de lírios

Até seu último ninho

*

Trazia a pombinha branca

Uma coroa de madressilvas

Mais um cacho de trigo

Prá deitar no jazigo

*

Eis que viu o pintaínho

E retirou o espinho

No peito enfiado

Do pássaro espichado

*

O beija-flor voltou a vida

E cantaram de alegria

Espalhando melodia

Mais doce que melancia

-Até o sol no céu sorria

* - * - * - * - * - * - * - * - *

NACHTIGALL
Enviado por NACHTIGALL em 28/02/2016
Reeditado em 23/03/2016
Código do texto: T5558081
Classificação de conteúdo: seguro