A MORTE DO BEIJA - FLOR
Recortando heras e trevos
Ante o pé do cogumelo
Achou a formiga
O beija-flor sem vida
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Caíu a abelha numa zumbideira
Igual apito da chaleira
Chorava a cigarra
Borrifando as folhas com água
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A borboleta inconformada
De asas abotoadas
Prá escapar da dor
Se socou dentro da flor
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Tratou o joão de barro
De catar plastas de barro
Prá construir o atáude
E repousar o cadáver
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Trouxe o sabiá de pronto
Uma casca de ôvo
Prá servir de lápide
Memória da pobre ave
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Batia o pica-pau
Numa lasca de pau
Esculpindo o nome
"Príncipe das flores"
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Levava o defunto o tucano colorido
Por ter o bico mais comprido
Enrolado em pétalas de lírios
Até seu último ninho
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Trazia a pombinha branca
Uma coroa de madressilvas
Mais um cacho de trigo
Prá deitar no jazigo
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Eis que viu o pintaínho
E retirou o espinho
No peito enfiado
Do pássaro espichado
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O beija-flor voltou a vida
E cantaram de alegria
Espalhando melodia
Mais doce que melancia
-Até o sol no céu sorria
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