O Pica-pau não sabe ler

(Para Sophia com amor)

De todos os bichos da floresta

A coruja era a mais crítica

Punha-se de pé num tronco

Que o vento derrubara

há quase quatro dias

E observava o macaco

No que ela nem se atrevia

Em suas brincadeiras bobinhas

Puxava o rabo do leão,

E depois se escondia

Provocava a ira do tigre

Com a mesma mania

Outro dia jogou uma fruta

Na casa das abelhinhas

Obrigando-as a trabalharem

Quase a noite inteirinha

Pra reconstruir rapidinho

A velha moradia

Ante que chegasse

Uma nova ventania

Só não conseguiram devolver

A vida das abelhinhas

Que morreram atingidas

E viraram comidinha

Das formigas que fugiam

Do tamanduá impiedoso

E da sua língua que lambia

E deixavam as formigas

Na maior das agonias

Dona coruja admirava

Senhor belo beija-flor

Que dos jardins, era o rei

E do mundo, um bom leitor

vivia entre as flores,

Como um celebre pintor

Se alimentando da beleza

do perfume e da cor

Dona coruja pensava

E chegava, mesmo, a dizer

__ Coitado do pica-pau

Ele não sabe ler.

Se soubesse não sofreria

Fazendo força que faz

Esburacando tudo

Como um tatu contumaz

E o barulho que incomoda

A todos na redondeza

Quem mais reclamava

era mãe natureza

E o bichinho __ coitado__

Desprovido de beleza