A FADA ARANHA 11 E 12

A FADA ARANHA XI – Revisado 21 jan 22

“Para ele mesmo de nada serviriam,”

garantiu-lhe a Salamandra, firmemente.

“Mas irá passar pelo Lar do Desespero...

Eu sou a guarda do portão e aqui espero

os malditos que algumas vezes chegariam...

Os ladrões a declararam amaldiçoada

e só por isso conseguiu achar a entrada,

porém nenhuma maldição sua alma alcança:

só vejo o brilho e o verde da esperança;

mas a passagem lhe franqueio integralmente.”

“Boa Salamandra, não sei como agradecer...”

“Não me agradeça. Talvez até o cair da noite

prefira antes o meu nome amaldiçoar...

Contudo, um bom conselho eu lhe vou dar:

Não dê a ninguém nada do que trouxer

até alcançar o seu final objetivo;

então verá como repartir o seu ativo;

não dê a súplicas qualquer atenção;

se as atender, será sua perdição

e irá sofrer sob perpétuo açoite!...”

A Salamandra afastou-se para um lado

e Leora em escuro túnel penetrou,

paredes lisas e piso também liso;

contra a umidade escorar não foi preciso,

o pavimento a percorrer em passo alado,

extremamente secos o ar e o vento;

viu outra luz, decorrido um certo tempo;

então cruzou por um árido portão

e uma pedra vermelha sobre o chão

seu calcanhar a mordeu experimentou!...

Era cheia de pedras vermelhas a paisagem,

que a assaltavam de boca escancarada

e com gemidos, qual em fome lancinante!...

Não obstante, seguiu Leora avante,

seus Tamancos protegendo-lhe a passagem,

embora aos poucos se fossem desgastando,

até que a um charco de sangue vai chegando;

estava raso, mas dali brotavam mãos,

que a tentavam segurar com mil puxões;

de novo o Manto a protege em sua jornada...

A FADA ARANHA XII – Revisado 22 jan 22

Tão logo ela se livrou do pantanal,

começou em pedras redondas a pisar:

mas eram crânios, as órbitas a luzir,

batendo os dentes para lhe pedir

a Água e o Pão que trazia no bornal!

Mas os conselhos da Salamandra recordou

e as caveiras, estalando, pisoteou,

suas súplicas a escutar, lugubremente,

sua audição, com grande esforço, indiferente,

sem deixar mágoa ao coração chegar...

Com um suspiro de alívio, chegou à floresta:

também as árvores eram ali seres humanos,

que lhe estendiam braços descarnados,

seus dedos quais espinhos aguçados

e novamente seu guincho a mente infesta;

ela passava depressa pelo meio,

de chegar perto demais tendo receio,

porque sabia que, se alguma a abraçasse,

seria extremamente difícil que escapasse

a seus amplexos horrivelmente desumanos.

Porém as raízes eram humanos pés

que procuravam fazê-la tropeçar,

os Tamancos e o Manto a protegê-la,

mas uma voz acima das outras se revela:

“Você nos despreza! Mas, e Leothar?”

Quando passou pela árvore derradeira,

Leora viu-se em frente a uma clareira,

A grama feita de mil unhas aduncadas,

mas sob a sola dos Tamancos esmagadas;

uma que outra mesmo assim a ela alcançar!...

Assim seu sangue escorria pela grama,

diversas gotas a voar pelo capim,

numa raiz todo o sangue concentrado,

sobre a qual viu outro homem arborizado:

“Sou Leothar! Se você ainda me ama,

dê-me esse Pão que traz em seu bornal

e a Água da Angústia, para curar meu mal!...”

E ela ia dar, apesar do bom conselho!...

Mas pareceu-lhe Leothar muito mais velho,

dois galhos-braços a lhe estender assim...