A MENINA QUE MATOU O PAPÃO 18/20 FINAL

A MENINA E O PAPÃO XVIII

"Por tudo o que me fez, vai me pagar!

Em que buraco foi que se meteu?

Ah, claro, está no quarto! Estou chegando!"

disse o Papão, a porta atravessando

com as ventas farejando, a procurar...

Olhando em volta, um pouco desconfiado...

Meiling só conseguia era pensar:

"Seu bandido, dá só mais um passinho!..."

E ele deu!... E chegou, devagarinho,

bem no lugar do ferro pendurado!...

Meiling respirou fundo e, com a faca,

cortou a corda, com um único golpe!

O ferro despencou-se, lá de cima

e caiu justamente sobre a crina

desse malvado que a menina ataca!...

Tereng Ganu caiu sem dar um ai!...

Mas agora, vinha a parte mais difícil...

Meiling saiu de trás da cabeceira,

deu-lhe um talho na garganta, bem certeira

e logo em sangue o monstro já se esvai!

Por um instante, ela pensou só na sujeira

do mal-cheiroso sangue verde pelo chão...

Ela ia ter de fazer toda a limpeza!...

E só então, adquiriu plena certeza

de ter vencido, na hora derradeira!...

Ouviu o rápido bater do coração:

só então notou que nem estava respirando...

Encheu os pulmões, em profunda aspiração

e só depois que recobrou a respiração,

pôs-se a chorar, cheia de alívio e de emoção!...

A MENINA E O PAPÃO XIX

Meiling chorou até adormecer...

Quando acordou, já era madrugada.

Acendeu as lamparinas, devagar,

depois o monstro começou a esfolar

e só parou depois de amanhecer...

A pele estava em muito bom estado,

menos as patas e um buraco na cabeça...

Cortou a carne em um monte de pedaços,

tirou os ossos e amarrou em maços,

buscou água no poço e deixou tudo lavado...

E aí, trocou de roupa e tomou banho.

Colocou tudo dentro de um carrinho,

com a pele por cima e foi à feira.

A história toda já correra, bem certeira

e o espanto de todos foi tamanho!...

Mas logo todo mundo quis comprar

a carne do Papão e até os ossos!...

Era remédio, conforme acreditavam...

Mas era a pele que todos disputavam:

Meiling esperou até o preço aumentar...

Foi então que chegou o intendente

do Mandarim, com cinquenta taéis,

em moedas de brilhante e puro ouro.

Meiling vendeu então o grande couro:

uma fortuna para aquela gente!...

Comprou logo uma charrete e roupas ricas

e foi depressa para a casa de seus pais.

O bolo não levou, mas mil presentes

e seus pais a receberam, bem contentes,

que ao ver os filhos, sempre alegre ficas!...

A MENINA E O PAPÃO XX

Até fingiram que nem tinha fugido

(porque o dinheiro apaga muitas faltas!)

Comprou-lhes uma casa bem maior,

passaram a viver muito melhor

e já pensavam em lhe arranjar marido!...

Seis dos amigos logo se apresentaram

(até o casado prometeu se divorciar!)

A ambição lhes brilhava no olhar nu...

Meiling a Tchang deu as lascas de bambu

e a Tcheng as agulhas que sobraram!

Para Tching, deu titica de galinha!

Para Tchong, uma lata de peixinhos...

Para Tchung, ovos podres devolveu,

Mas a Tchiang um bom preço ela lhe deu

pelo ferro e aquela corda bem fininha...

Mas depois, ela mandou irem passear...

(Bonita ajuda que vocês me deram!)

Eles se foram, bem desapontados,

pois pretendiam já sair casados,

sem nada conseguirem arranjar!...

Até que Tchieng também apareceu

e comentou que seu presente era o melhor...

Que até a faca fizera falta em sua caçada,

que nenhum dos outros a ajudara em nada...

Tanto falou, que até a convenceu!...

E Meiling concordou em se casar

com Tchieng, o dono do curtume...

Viveram muito tempo, apaixonados,

seus filhos todos muito bem educados

e aqui a história tenho de acabar!...

Entrou pela porta e saiu pela janela:

quem quiser outra, que tire da costela!...