AS TRÊS MANTILHAS I/II

AS TRÊS MANTILHAS I (Ou “Sarafans”) – 29 setembro 2022

“Um homem tinha três filhos”, o que é comum

em histórias de fadas, sempre o terceiro

pelos irmãos mais ou menos humilhado,

o que alguns interpretam como alegoria de um

homem só em crescimento, até o derradeiro

instante que seu amadurecimento é alcançado

e só então pode administrar sua vida

e como adulto a controlar e levá-la de vencida.

Pois então, certo homem seus três filhos tinha,

que então cresceram até a primeira juventude,

mesmo o mais moço já em idade de casar,

de tal impulso a mãe sempre os continha,

mas o comum entre essa gente rude

era que o pai do noivo fosse a festa dar,

enquanto a noiva seu dote vinha trazer

e essa homenagem dos sogros receber.

Contudo, como a pobreza o oprimia,

tal homem não acreditava ser possível

três festas de casamento completas financiar,

então os três filhos convocou um certo dia:

“Nesta sociedade, ocupo um baixo nível,

não poderei três matrimônios festejar...”

Eles disseram: ”Pai, nem ao menos namorada

por algum de nós foi sequer considerada!”

“Não obstante, sua mãe e eu estamos

bastante velhos e os queremos apoiar;

todo esse tempo em nossas terras trabalharam,

mas com os tremendos impostos que pagamos,

nenhum salário sequer pude lhes pagar,

por mais que sempre em tudo me ajudaram.

Portanto, quero que agora procurem ocupação

E três mantilhas com seu pagamento comprarão.”

“Para sua mãe as darão como presente:

das três mantilhas a que for mais bela,

segundo o gosto que ela demonstrar,

será o motivo para que sua boda assente

e os outros dois desistirão de tê-la

e voltarão comigo em nosso campo trabalhar,

além de ajudarem a novas peças construir,

em que o jovem casal possa dormir...”

AS TRÊS MANTILHAS II – 30 setembro 2022

Os três irmãos em nada ficaram satisfeitos,

melhor que mantilhas, seria mandá-los namorar

qualquer moça que vivesse ali por perto,

que os aceitasse com todos os seus defeitos!

“Mas se é para isso que o pai nos quer mandar,

vamos sair por aí, e o coração manter aberto!”

Assim o mais velho uma mula cavalgou

e o seguinte com um jumento se ajeitou...

Desse modo, o terceiro a pé ficou:

“Meus irmãos, mas o que hei de cavalgar?”

Monte num porco e com ele vá fuçar!

O bicho é esperto e tantas trufas farejou,

talvez a mantilha te vá desenterrar!”

E partiram todos dois a gargalhar,

Milovan, o mais moço, deixado para trás,

que de tal conselho muito pouco caso faz!

Khrystos, o mais velho, foi seguindo pela estrada

até deparar-se com muito antiga ponte.

Será que ela ainda se pode atravessar?

Mas junto à margem escutou voz agoniada:

“Senhor cavaleiro, não me desaponte!”

Que ideia é essa, como a irei desapontar,

se nem ao menos sei quem está gritando!

Acaso é a ponte que me está chamando?

De certo modo, era a ponte que falava

ou antes a ninfa por ela responsável:

“Há muito tempo me construíram os Romanos,

mas há anos que por ninguém é atravessada

e me ocorreu uma desgraça lastimável:

um monstro é o Pontoppidan e com enganos (*)

se estabeleceu debaixo de minha arcada

e me conserva até agora com ele aprisionada!”

(*) Responsável pela ponte e coletor do pedágio.

Khristos não sabia o que lhe responder,

até que surgiu uma criatura apavorante:

“Eu sou o Pontoppidan desta ponte,

estou com fome, portanto irei comer

o seu cavalo neste mesmo instante

ou de seu próprio sangue sugarei a fonte!

A escolha é sua: seu cavalo comerei

ou ainda vivo a você devorarei!...”