NASREDDIN E A NOIVA I/II

NASREDDIN E A NOIVA I – 17 JUL 2022

Depois que Nasreddin trouxe o tesouro

foi adquirida uma casa bem melhor

e até sua mãe comprou jóias de ouro;

seu pai não precisou mais ser lenhador,

mas necessário foi um longo tratamento;

ficou quase nada para o pobre Nasreddin,

só meia dúzia de moedas recebeu no fim

e então partiu, a esperar melhor momento.

Pois foi morar na casinha abandonada,

que fora por seus pais posta de lado,

a antiga horta por ervas ruins tomada,

mas seu dinheiro foi empregando com cuidado,

com que comprou duas dúzias de ovelhinhas,

passando os dias como o seu pastor,

sem intenção de ser de novo um lenhador,

nem as ovelhas querer deixar sozinhas!...

Já dele os pais para nada precisavam,

contratado haviam muitas empregadas,

sem perceber que em algum dia terminavam

essas moedas ao ogro retiradas;

mas não era esse seu problema realmente:

foi reformando a casa pequeninha,

desse pequeno rebanho que ora tinha

a lã esquilava, em paz inteiramente.

Sempre ocupava a falda da montanha,

para às ovelhas garantir pastagem;

o povo ainda tinha em mente a sanha

daquele ogro, por ali a evitar passagem;

e assim se passaram alguns anos,

até tornar-se plenamente adulto,

de algum amor a nutrir desejo oculto,

que com carinho atendesse a seus reclamos.

Certo dia, um caniço transformou

em uma flauta e começou a soprar;

as suas ovelhas em nada perturbou,

porém alguém acudiu ao seu tocar:

“Que está tocando hoje, meu pastor?”

Nasreddin se interrompeu no mesmo instante,

jamais mulher mais bela vira adiante,

parou o toque, meio tomado de estupor...

NASREDDIN E A NOIVA II – 18 JUL 2022

Ficou a jovem a se rir alegremente:

“Não pare agora, quero escutar mais!”

Nasreddin se levantou, ingenuamente,

tirou o gorro que usava e que jamais

tirar costumava, quase a flauta a derrubar:

“Minha senhora,” – disse ele em confusão,

“Eu só tocava a mais simples canção,

é só improviso, tenho muito que treinar...”

“Pois para mim pareceu muito bonito...”

depressa Nazreddin se recobrou:

“Vendo a senhora, fiquei até aflito,

não percebi que estava a me escutar;

se alguma coisa por aqui é bonita

é a senhora, a mais linda mulher!

Nenhuma outra parecida vi sequer!”

“Ora, pastor, vê se deixa dessa fita!...”

“Sente de novo e volte a improvisar!”

“Mas a senhora está parada em pé,

de jeito algum me poderei sentar...”

“Vamos lá, ponha de lado o rapapé,

não quero mesmo me sentar no chão,

vou encher de rosetas o meu vestido!”

“Sente em minha pedra, fico agradecido...”

“Não sei porque me pede tanta rogação!”

“Não, senhora, eu vou tocar para a senhora,

deixe que eu mesmo me vá sentar no chão!”

“Parece até que quer que eu vá embora!

Não sou senhora, pare com tanta enrolação,

sou donzela solteira e de muito respeito!...”

“Sim, minha senhora, digo, senhorita,

vou procurar tocar melodia bem bonita,

tal e qual a senhorita tem direito!...”

Nasreddin estendeu a mão para a ajudar,

porém a jovem sua saia arregaçou,

em movimento grácil, depois indo sentar:

“Não sei por que você se atrapalhou!

Se quer saber, eu me chamo Zalina

e você, pastor, por acaso tem um nome?

Ou aqui sozinho passa tanta fome,

que com seu nome nem sequer atina?”