NASREDDIN E A NOIVA 5/6'

NASREDDIN E A NOIVA V – 21 JUL 2022

“Você não está se gabando, Nasreddin?

contando vantagem, a pregar-me essa mentira?”

“Não, me coloquei em suas mãos assim;

mas por que é desse jeito que me mira?

Tenho confiança de que não me vai trair...”

“Mas, Nasreddin, você mal me conhece!”

“Tenho certeza de que a resposta à minha prece,

a companheira que a Deus eu quis pedir!...”

“Como você é pretensioso, Nasreddin!

Não faz ideia se sou noiva ou desposada!”

“Da outra vez já me falou assim,

que era donzela e não mulher casada.

E caso fosse, como tempo encontraria

para me visitar nesta pastagem?

E não é coisa de pretensão ou de coragem,

só o grande amor que a falar me impeliria!”

Sentiu-se Zalina bastante lisonjeada,

mas mesmo assim não pretendia confessar

mais que em amizade estar interessada:

“Não sei quando poderei aqui voltar;

venha comigo uma parte do caminho...”

E Nasreddin a acompanhou, alegremente,

embora falasse apenas coisa indiferente,

sem revelar sentir qualquer carinho!

“Agora, volte, já me acompanhou demais...

Ah, não, me ajude a colher algumas flores...

A minha demora, por motivos naturais,

Tenho de justificar, sem inventar horrores!”

E após reunirem, entre os dois, grosso buquê,

Zalina, só por instante, o abraçou

e a seguir pelo prado se afastou,

Nasreddin a olhar, até que já não mais a vê...

E novamente, mais uns dias se passaram,

até que ela retornou, meio distante:

“Nasreddin, nossas conversas acabaram,

não volto mais, me esqueça doravante.”

O infeliz pastor quase se desesperou:

“Mas porque, só está me contrariando?”

“É a realidade que lhe estou mostrando,

não sei por que o seu amor me confessou...”

NASREDDIN E A NOIVA VI – 22 JUL 2022

“Mas eu não sinto o mesmo por você:

fui sua amiga, apenas, nestes dias,

não posso amá-lo, pois você não vê?

Deixe de lado as suas fantasias...

Olhe, é uma pena, gostaria de voltar,

mas não me atrevo a tal risco correr,

pois sei que você tentará me convencer.

Vou para casa e não vá me procurar!”

E deu-lhe as costas, assim, sem mais aquela,

Nasreddin sem saber o que fazer:

nunca Zalina lhe pareceu mais bela,

não se atrevia a atrás dela correr...

Afinal, ele era apenas um pastor

e ela uma jovem de alta qualidade,

sua indumentária o indicava e, na verdade,

usava ele só pelegos sem valor!...

Em seu trabalho assim se refugiava:

na época correta, ele esquilava,

em grandes fardos a lã ele ajuntava,

eventualmente à aldeia ele a levava

e a trocava por necessários mantimentos;

tirava o leite das cabras e das ovelhas,

fazia queijo e manteiga, perseguia abelhas,

seu mel roubando sem grandes sofrimentos!

Quase nunca suas rezes abatia,

somente quando se haviam acidentado

ou quando um lobo atacava e as feria,

grande demais o ferimento assim causado.

Com uma funda, os lobos derrubava,

quase sempre com precisão ao alvo,

seus rebanhos a manter assim a salvo,

exceto se ovelha em demasia se afastava.

Certo dia, chegou um lobo sorrateiro,

mas de longe Nasreddin já o avistou

e lhe enviou um golpe bem certeiro;

sem o matar, somente o derrubou

e quando correu a completar sua morte

“Não me mate!” – o lobo suplicou.

“Não acredito que você falou!”

“Sim, eu falei, por boa ou por má sorte!”