Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

Rio,

apesar das desgraças,

de não achar graça

na sujeira das praças

no povo que passa

de cabeça baixa

alma no chão.

Rio,

de janeiro, apesar do medo (existe a alegria)

de fevereiro apesar da chuva (mas é Carnaval)

de março, apesar das águas (deixa a água rolar)

de abril, apesar das lembranças (os tempos são outros)

de maio, apesar do cinza (é só colorir)

de junho, apesar do espanto (o canto consola)

de julho, apesar do fogo (tem jogo de bola)

de agosto, apesar dos pesares (às vezes tem praia)

de setembro, apesar dos maus ares (encurtam-se as saias)

de outubro já rio por descuido (o que é bom sinal)

de novembro é porque não tem jeito (eu sou otimista)

de dezembro é por ter esperança (vem o ano criança)

Rio, acende tua chama

que te cima te protege o Cristo

que é carioca e te ama,

por isso

Rio, logo existo!

Mauro Gouvêa

Rio de Janeiro, 1988