LÁGRIMA VERDADEIRA

A batida do coração,
A solidão envolvente,
Os pés no árido chão,
O sol ardente,
A inesgotável poeira,
A lata d’água na moringa*,
A desengonçada ginga,
Pra não perder o liquido precioso,
Tão custoso em dias de estiagem,
A miragem,
A distância da fonte,
Ao humilde lar,
Um par,
De olhos cansados,
Ainda que esperançados,
Com um novo horizonte,
O descompasso na caminhada,
A solitária mangueira,
Na beira da estrada,
O descanso, o recomeço,
O preço que é pago,
Pelo afago da pobreza,
Mas, não tira a delicadeza,
Que sobre a vida pousou.
O tempo que passou...
Hoje aqui estou,
Sob a sombra da mesma mangueira,
E uma lágrima verdadeira,
Agora tomba,
Sobre o meu rosto,
Desgosto?
Não, apenas o encosto,
Sutil e repentino,
De uma dolorida lembrança,
Vento que vem e balança,
A nuança de um eu menino.
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Em Minas, moringa é o mesmo que cabeça,