Foi esse o dia

A luz vermelha refletia os olhos amarelos e dentes amarelos e brilho de peles coloridas.

Ele não havia se preparado, muito menos eu.

Estávamos ali lembrando sentidos, dois corpos redescobrindo um e outro.

As mãos deslizavam sobre a pele, enquanto a língua percorria relevos e declives.

Ao fundo a trilha sonora era apenas risadas e gemidos.

Beijos nas covinhas. Beijos nas curvinhas.

As formas já não eram novidade, já presentes antes em cenas parecidas.

Ali no mesmo quarto, na mesma cama, o desejo só crescia.

Nus sem nada que impedisse.

Sem música. Nem bichos. Sem velas. Nem vinho. Sem lençol. Nem absorventes.

Nus. Ele não havia se preparado, muito menos eu.

Às 4 e pouco da manhã eu já não era o mesmo eu.

Talvez eu já houvesse me preparado.

Muitos anos e cenas passaram por mim aquele momento.

Talvez ele já houvesse se preparado.

Um ano inteiro passava antes desse momento.

Mas aquela noite não houve hesitação.

“Hoje sim, vem, pode vir, bem...”.

Não houve espera. Não houve medo.

Abriu-se a caixa de pandora. Não há mais segredo.

Houve aceleração de batimentos cardíacos.

Ouve a aceleração dos meus batimentos cardíacos.

Ainda ouço a aceleração dos seus batimentos cardíacos.

Ainda sinto sede. Ainda sinto fome. Ainda sinto...

Explosão!

Corpo todo, tempo todo, canto todo.

Como? Quem? Quando? Onde?

Sei não!