Dona Doida, andarilha urbana

Dona Doida pinta o rosto,

Faz maçãs em tons de rosa,

Nas bochechas que colore.

Sombra nos olhos, vários tons,

como num céu azul.

Na boca, um coração carmim.

Ajeita os cabelos desgrenhados,

Põe um laço de fita.

No pescoço mil colares.

Pulseiras. Um relógio parado.

Ajeita o vestido estampado,

Que vai até o tornozelo,

Escondendo a meia, desfiada,

E o sapato branco, encardido.

Gola alta, manga comprida,

Como convém a uma dama antiga.

Pega a bolsa, põe a tiracolo,

Ri pro espelho, passa perfume e sai.

Dona Doida anda a cidade toda,

Todo dia, pra lá e pra cá, sem parar.

Anos a fio a andar.

Sol, chuva. Calor. Frio.

Andarilha urbana.

Dona Doida, doida, sumiu.

Não vejo mais Dona Doida,

Com seu pisar mansinho,

Olhando em todos os cantinhos,

Procurando...

Quem me dera saber o quê.

Poema do livro Contato Urbano – poesia, foi ilustrado pela artista plástica Iara Abreu,

exposto em individuais em 2008 e 2009, na cidade de Belo Horizonte/MG-Brasil, e pode ser visto em http://angelatogeiro.googlepages.com/donadoida,andarilhaurbana