Lembranças de um pequeno burguês

E procuro agora a raiz

engenho do meu ser

mamãe me ensinava a ser feliz

querer, escolher, querer

apuros da ingenuidade

papai mestre da infelicidade

ministrava o não-ser

insubmissa ordem do dever

tirou-me a passividade

Foi um crescer sofrido

mas não insosso

tempero ardido

rebelde bom-moço

Daquele idílio operário

tudo, tudo se desfez

até o mais ralo desse colorário

abandonou-me a crítica de vez

E cai o muro

o sonho tinha seu hemisfério escuro

o que resiste é estupidez

e essa vergonha de ser pequeno burguês