Eu e o Tempo.

Quando me senti como gente

Há anos e anos. Já não é tão recente,

Dividia com ele sempre imponente

O direito de ser sempre assim.

Um moleque sem compromisso,

Com uma vida cheia de viço,

Que se achava e por isso,

Nunca pensou que houvesse um fim.

Não sei qual de nós dois passava,

Mas sei que onde eu ia ele estava,

E da maneira que me olhava,

Impassivelmente assistia a minha ida.

Nessas estradas que pensei infinitas

Sobressaiam-se tantas coisas bonitas,

Coisas faladas e coisas também escritas,

Na jovialidade impetuosa que afrontava a vida.

Eu sempre o considerei bem marrento.

Vive o todo, e nunca vive o momento,

Mesmo tendo aportes de encantamento,

Fiquei na minha, contudo, mais precavido.

Intrometeu-se bastante em minha vida,

Abriu-me algumas das muitas feridas,

Nunca me enalteceu na subida,

Nem desdenhou por eu ter caido.

Hoje, como que ouvindo um conselho,

Ponho-me frente a frente ao espelho,

E vejo em mim muitas marcas de relho,

Que deixaram imensas cicatrizes reais.

Mas fui bem jovem até onde pude.

Fui nobre, educado, e até já fui rude.

Fui rio perene, ribeiro, açude.

Só que tudo passou. Não sou mais.

E o tempo? Venceu a corrida.

Fez o que quis em minha vida,

Sacaneou-me de forma atrevida,

Permanecendo enquanto eu passei.

Mas não há de ser nada não.

Depois dessa grande ilusão,

Tudo que fiz usando o meu coração,

Vai ser eterno. Isso eu sei.

Lannes Almeida
Enviado por Lannes Almeida em 27/05/2009
Reeditado em 03/04/2010
Código do texto: T1618414
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