O homem e o rio
Ah! Eu era pequeno e você,
tão grande, fascinante...!
No começo eu tinha medo das suas águas,
mas fui me aproximando
a cada instante.
Na minha adolescência,
você foi o meu brinquedo,
eu escrevia nas suas margens
minhas fantasias,
meus segredos.
Sentava nas suas pedras.
em meio às cachoeiras.
Escutava o seu barulho,
brincava contigo,
olhava seu movimento a manhã inteira.
Derramei sobre sua correnteza,
lágrimas de perda
da primeira namorada.
Fiz queixas, desabafei contigo,
lhe fiz meu amigo
e segui a estrada.
Mas por ordem do destino,
me distanciei,
sofri de saudade.
Quantas noites sonhei com você
e acordei num leito,
em uma distante cidade.
Depois de tempos distantes,
voltei pra lhe ver
e contar minha história.
Tão grande foi meu espanto,
eu cresci, aprendi,
e você ficou pequeno
que triste memória!
Agora só restam lembranças,
a sua enfermidade,
não posso curar.
Me ponho a chorar com você,
porém minhas lágrimas,
não vão lhe completar.
O boi que de você bebia,
a planta que de você alimentava-se,
os peixes que a você enriqueciam,
a nuvem que lhe protegia.
Hoje são raros ou nem existem,
mas você continua lutando,
tal qual cobra arquejando
suportando essa agonia.
Mariano P. Sousa