"Onde Moraria a Tristeza " * Uma historinha*

Certo dia perguntaram algo

Que me instigou a refletir.

Não somente pela questão em si

Mas, antes, pelo meu sentir.

Quiseram saber como eu tão alegre e feliz,

Escrevia textos tristes em sua maioria.

E não é que era verdade?

Onde em mim estava a alegria?

Poderia perguntar ao avesso,

Onde moraria a tristeza?

Estaria então escondida,

Revelada só em formas de letras?

Fui assim procurar a resposta,

Como agulha em um palheiro.

Questão complicada, pensei eu,

Que da vida faço um picadeiro.

E meio a tantos pensares, que impasse!

Procurei por todos os cantos

Uma solução que contemplasse,

Que me servisse de alento.

Revirando minhas lembranças

Sem esquecer nenhum espaço,

Voltei à longínqua infância,

Recordei-me de um um velho palhaço.

Pude revê-lo em minhas memórias

E o som de sua gargalhada.

Dançava e contava histórias,

Fazia a alegria da garotada.

Mas me lembrei também

De um dia em que chovia muito.

Ao circo não iria ninguém

Nem com convite gratuito.

O dia já estava findando

Eu olhava pela janela,

Quando vi o velho palhaço

Escondido em uma viela.

Fiquei observando quieta

Para que assim não me visse.

Muito embora a minha vontade,

Era sair e fazer peraltice.

Usava um chapéu azul,

Com um lenço se enxugava.

Foi então que descobri,

Que sozinho ele chorava.

Voltei então à questão

E ali estava a resposta.

Bem diante do meu nariz

A verdade ficou exposta!

Como o circo era bem próximo,

Dias depois fui procurá-lo.

Não resisti, perguntei

O que estaria a atormentá-lo.

Me respondeu de improviso,

Que era coisa de gente velha.

Com um suave sorriso

Me apelidou de sentinela.

Insisti em por que ele chorava,

Se um palhaço só alegrava.

Ao que ele me respondeu:

Foi um grande amor que morreu!

Nao entendi de momento,

Mas resolvi aceitar.

Como ainda era criança,

Quando crscesse tudo iria se explicar.

Hoje crescida e adulta,

Leio e entendo as entrelinhas.

Agradeço ao bom e velho palhaço,

De roupa coberta de estrelinhas.

Toda a alegria da gente,

Nasce e vive contente,

A tristeza que ninguém convida,

Chega e fica, num dia qualquer, de repente.

Fica dentro da alma escondida,

E incomoda em solidão.

Quando a gente pega a caneta.

E vem aqui soltar o coração

Eliana Braga

Gaivot@

01/06/06

21:00h

Campinas/SP

Brasil

Eliana Gaivota
Enviado por Eliana Gaivota em 01/06/2006
Reeditado em 23/10/2006
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