da extrema condição da vida

Ao Camarada Moses Mabida

na cordilheira dos andes

brutalmente descansada

eu vi a mesma noite

que trazias arquivada

no vão de tua face

eu vi a imensa pedra

derramar-se incontrolada

nos ombros de minhas pupilas

nos olhos de minha mágoa

eu vi meus irmãos negros

destravando a madrugada

na mesma peripécia insone

com que os povos lavram a alma

eu vi no colo das serras

os verbos que ainda não temos

e sonhos que de tão sonhados

estavam gastos de paciência

eu vi o grito de Neruda

espalhar-se por inteiro

e construir todos os vãos

desde Manágua até Soweto

eu vi a fímbria da tarde

descrever esquinas no meu peito

e me propor ângulos tão vastos

quanto a extensão dos meus desejos