CENAS DA INFÂNCIA

No passeio trincado;

A maré foi riscada;

Na infância passada;

No céu hei chegado.

Ripas azuis e amarelas;

Da charrete cansada;

Um bailar divertido;

E meu olhar tagarela.

Minhoca arrancada na horta;

Enxadão o solo a sangrar;

Latinha da "Cica" com terra;

De mandis cheio o "emborná".

Mês primeiro das chuvas;

Rio Jacaré transbordando;

Pamonhas aqui e aculá;

Milho verde “en-bonecando”.

Sábado compra Acém;

Cheiro de carne cozida;

Fim de semana Santana;

A panela sopra e apita.

Miudinhos olhos de sono;

Pão sovado na mesa;

Na TV Inezita Barroso;

Sons, domingo caipira.

Terninho, cabelo penteado;

Sino da Matriz que toca;

Pé de moleque que corre;

Para chegar à missa das nove.

Cheiro de pipoca no ar;

Carrinho de lata e vidro;

Ataíde em seu pipocar;

Pipoca que em casa não há.

Picolé carrinho no campo;

De água e leite cremoso;

Boné a moleira tampando;

Quem vai querer refrescar?

Catecismo a tarde, domingo;

Decora o menino a lição;

Vai haver sabatina do Padre;

À hora da primeira comunhão.

Bola cascuda de terra;

Às vezes estoura o dedão;

Chuta de um lado pro outro;

Amigos com o pé no chão.

Tarefa de casa a fazer;

Sem vontade, embromação;

Espia de banda o dever;

Caderno e lápis na mão.

Batina pega frango vermelha;

Anjinhos em volta do altar;

Ansiedade para hora certinha;

A sineta badalar, badalar, badalar.

Sacristia sem ninguém, vazia;

Celebração da Missa no fim;

Guardando cálice e galhetas;

Às sobras do vinho põe fim.

Erva-cidreira, alecrim, laranjeira;

Folha da palmeira, manjericão;

O povo de tudo empunhado;

Domingo, ramos e procissão.

Mês Maria de maio menino;

Meninas anjinhos em coro;

Meus olhos miram atentos;

Certa anjinha da coroação.

Vai comprar café menino!

Dinheiro esperava levar;

Ao invés dão-lhe caderneta;

Inocente crendo não pagar.

Roupa de "vêdeus", primeira comunhão;

Na roça poses e sorrisos pra câmera;

O filme das fotos se queimam;

Coroinha a máquina arreganha.

Sobre o andor me olhando;

Imagem Senhor dos Passos;

As pernas tremem de medo;

Gabriel mentindo a me assustar.

Semana da pátria no pátio;

Meninos e meninas a mirar;

O pavilhão que se hasteai ;

E eu sonhando hastear.

Merenda regrada na bolsa;

Quitanda de amor e de mãe;

Como pouco e cedo resto;

Para na rua, não apanhar.

Gleisson Melo
Enviado por Gleisson Melo em 02/08/2010
Reeditado em 16/01/2022
Código do texto: T2414371
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