Esconderijo

Enquanto inerte olhava penetrante

As cores e os sons daquele recanto

De saudades e algumas recordações

Via-lhe brotar flores e horrores

Tomadas em um gole apenas

E naquele quarto de tantas noites

De desejos correntes gélidos pelas vísceras

De imensidões de vinho tinto

Aguardava quieta o silêncio

Que cobria agora o corpo morto

Naquele único lugar de esconderijo

Onde falavam em voz baixa todos os móveis

Sobrevivia uma inesperada vontade

De afundar nas profundezas

Daquele baú de noite e dia

Uma vez ou outra pousavam

Encostavam-se ao vidro da janela

Em silêncio permaneciam e induziam

A perceber que quase sutil

O vento, ouvia inúmeras confidencias

Era o paraíso sagrado da sobrevivência

Onde viviam e morriam pensamentos

Que recalcados e segregados

Escondiam-se embaixo das cobertas

Para que ninguém nunca os soubesse

Lady Sophia
Enviado por Lady Sophia em 27/09/2006
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