Quimera

Carnavais dos meus sonhos...

De confete e serpentina,

penas, plumas, paetês,

cheirando a lança-perfume.

Carnavais de frevos e sambas

e de ingênuas marchinhas.

Carnavais da minha infância!

Maravilha colorida

em meu coração vibrava

quando a banda ali tocava:

“Se esta rua fosse minha

Eu mandava ladrilhar

Com pedrinhas de brilhante

Só pro meu bem passear”.

E os blocos irreverentes

numa algazarra total

a cantar energicamente

“Eu sou o pirata da perna de pau”...

Desfilam aqui e ali

os blocos quentes na rua.

Chega a "turma do funil"

Borrifando cloretil.

Já "tem nego bebo aí!"...

Mas "deixa as águas rolar!"

Carnaval é pra se brincar.

E depois da brincadeira

"tá todo mundo de ressaca",

porque "cachaça não é água, não!"

Carnavais da minha infância

Que jamais... Jamais voltarão!

Carnavais de sonhos...

Sonhos da mocidade!

Nas invasões de foliões,

colombinas e pierrôs

extravasam suas mágoas

na alegria dos salões.

Carnaval de deuses gregos,

de soldados de Israel

a exibir garbosamente

seus dourados de papel.

Chega a turma dos coroas,

espalhando serpentina,

a implicar com o Zezé –

“Corta o cabelo dele!"

Pois ele não é menina!

E enquanto a "Lua no céu flutua,"

"Arlequim apaixonado"

chora o amor da Colombina."

Ah! Meus carnavais!

Ainda ressoam em mim

Os sons quentes dos tamborins..

Nenhuma "máscara negra"

a ocultar-me o pranto...

Só o destino rude

a sufocar-me o canto.

Carnavais da minha cidade!

Não dançados, não vividos,

foram, para mim, apenas

uma quimera!

Nada mais!...

***

Maria de Jesus. Fortaleza, 07/03/2011.

Maria de Jesus
Enviado por Maria de Jesus em 07/03/2011
Reeditado em 08/02/2013
Código do texto: T2833737
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