O MENINO DA FEIRA

Em muitas, em quantas ensolaradas manhãs,
ali, sentindo o cheiro das deliciosas maçãs,
chegava na barraca, e não era um contribuinte.
Ficava ali quieto, no cantinho, de campana,
depois pedia-Senhor, de me uma banana?
Sem dinheiro, não envergonho de ser pedinte.

Não andava sujo, não parecia um andante,
olhava me por cima dos óculos o feirante.
-Não faz como outros, rouba e sai a correr...
-Estou pedindo, por que estou sem trabalhar,
e te falo a verdade, nunca aprendi a roubar,
é que desde ontem, que não tenho o que comer...

Ficava olhando me, que era ainda um menino,
da cabeça aos pés, olhava meu corpo franzino...
Deu me bananas e saiu.Voltou gritando,assim não.
Então comia com tanto gosto, sem deixar lascas,
o que ele viu, foi eu comendo até as cascas...
-Isso não faz mal.Talvez  hoje, minha única refeição...

Tantas vezes, madrugada, ainda com orvalho,
eu o ajudava, prestando ali algum trabalho,
ele como sempre me olhando, com admiração...
Mas só olhava, nenhuma pergunta,jamais fazia.
Lembro, numa manhã chuvosa,vi a calçada vazia,
tinha morrido...Até hoje, ainda dói meu coração...

GIL DE OLIVE
Enviado por GIL DE OLIVE em 06/05/2011
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