O PASSADO

O PASSADO

O passado está preso

À maçaneta da minha porta.

Como carro de som volante,

Azucrina os meus ouvidos

Com informações

Das minhas ações de outrora.

Sem me perturbar,

Escrevo em frases garrafais,

Que meu saber está intacto,

Que ganhei mais sabedoria.

Em som audível e harmonioso,

Ouço aplausos vindos de muitos chãos.

A um metro de distância

Vejo a insígnia dourada

Pela esperteza da minha vontade.

Ao lado, o prêmio lapidado

Na fornalha da minha sinceridade.

Sobre a mesa do escritório,

O troféu radiando certeza

Da minha disposição em servir.

No guarda-roupa,

Cintilando em vivo azul,

O manto dá sinal de vitória

Pelos tantos momentos

Em que me multipliquei

Em páginas gloriosas.

No entanto,

O salário minguado persiste.

O destino resvala

Entre indiferenças

E muitos nãos.

Tudo, porque inda acesos:

Os fantasmas dos petês dos revoltosos;

Os inovações que nas labaredas incomodavam.

A família – muralha de ferro, lâmpada inapagável,

Faz pilhérias com as tristezas;

Ri da solidão;

Dá bofetada nas dificuldades.

A consciência, em voz firme,

Enche o Universo com felicidade:

- Os Céus estão contigo

E mobilizam as clarinetas...