Inocência

Quando pisava na areia fria da praia, inocente
Menino, corria de ponta a ponta fazendo graças
A menina linda por quem me apaixonara
Sentada, olhava-me e fazia, inocentemente, pirraças
As ondas rasteiras, inocentemente, ensopavam sua saia,
Corpo, o vestido e o nu; pés molhados; meu nome escrito à vara
Gritando por mim... eu palhaço, também molhado...
Gritando: venha! Corra comigo! Ensopado,
Olhava para ela, distante, distante de mim...
Perto do mar, perto das águas, perto das lágrimas.
Aparei, com o casco de coco, o que vertia dos seus olhos
E bebia com prazer... desejava guardar, dentro do meu ser,
Tudo que saia da bela menina sentada na areia!
Não havia ninguém... só eu e ela, na janela do mundo...
Vagabundos, sonhávamos com o vazio do profundo
Que nos tomava corpo adentro... menino que sonha
Menina estranha... nossos corpos já estavam molhados...
Os sangues corriam mais vermelhos em nossas veias...
Estávamos com febre, lebres que se metem nas matas
Com vergonha; nossas vergonhas afloravam
O seu pequenino seio de bicos rosados, assanhados
O meu sexo toma forma, assanhado, teso, retesado...
Foi a primeira vez que nos sentimos desavergonhados...
Até hoje lembro, mesmo distante, do passado.
Eu por aqui, distante; ela já casada, esquecida de mim...
Fim de um começo que nunca pretendeu começar
Um adeus sem pensar; um pensamento de abrasar...
Fim de uma trilha de praia marcada por corpos que se amaram
Jovens ensopados, praia deserta, silêncio, um doce recordar...

Ubirajara Sá
Enviado por Ubirajara Sá em 13/09/2011
Reeditado em 13/09/2011
Código do texto: T3218215
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