Primeiro amor...
Envolta no véu poeirento da rua
Sob o abatido sol da manhã
Fuma a jardineira ao gemido arcado
Pela estrada nua rumo a Jaçanã
Exalando cheiro de diesel queimado
Nessa órfã e empoeirada estrada
Descompassada pedala a lembrança
Resgatando no odor da fumaça
O primeiro amor de criança
Cuja marca indelével não passa.
Os olhos brilhantes, encantados
Com a precoce chegada do amor
Não perdiam um só movimento
Dos “pegas” e “piques” de pés agitados
Das pregas das saias rodadas ao vento
Um par de olhos, um cheiro, uma visão...
Um rosto, um nome e nada mais
Fez-se tom silencioso, fez-se canção
Fez-se agasalho na noite, fez-se oração...
Fez-se luz dominante dos sóis matinais.
Ficou lá no suspiro, na pureza perdida
De um pequeno e virgem coração
Ficou lá prisioneira e esquecida
A reclamada receita que a vida
Debalde procura no mar da ilusão.