Álbum de Recortes
Nos anos de minha mocidade,
escrevia em papel de chuva com o dedo da liberdade.
Fui pecador em muitos momentos insanos
Entretanto, se hão de vingar-me nas chamas lá de baixo,
que me queimem como churrasco
e não esqueçam daquele temperinho que amo.
Minha avó preocupava-se com os atrasos compreensíveis de um moleque de interior.
E eu chegava tarde em casa,
com a bicicleta de meu avô.
Certa feita, fui a uma festa na casa do Manuel Carlos, amigo da mesma rua.
Podia caminhar, mas preferi chegar na curtição.
Roubei a bicicleta azul do meu avô...
Minha avó quase morreu do coração.
Ah! Minha velha do coração!
Quantas vezes me abraçou?
Tinha oito anos eu apenas,
quando mamãe me abandonou.
Levaram-na da minha vida,
como rouba a poeira a tempestade
Fazer isso com uma pobre criança deveria ser muita maldade.
Dez anos mais tarde, estavam os pedaços da bicicleta enferrujada
encostados na garagem.
Como os anos passam e nós paramos de dar importância às coisas antes repletas de valor?
Da bicicleta, parece-me, nem a lembrança ficou...
Só restam recortes, um pouco de saudade
E um tico do amor.