dormentes não dormem

o trem movia-se célere pela madrugada

sobre trilhos que não dormiam

sobre dormentes niquelados

que se mantinham acordados

esperando por ele (por ela quem

esperava era eu)

a vida numa estrada de ferro

são os trilhos e dormentes que não dormem

mas é também a atendente que ajeita o modess

no banheiro destinado aos funcionários

antes de se preparar pra dormir

após ter servido o jantar ao último

passageiro do carro-restaurante

estamos em 1947, o absorvente chamava-se

assim e ainda não tínhamos caminhado tanto

no carro de poltronas comuns

um notívago alcança uma revista

fingindo interessar-se por um assunto qualquer

o passageiro indevidamente embarcado

não precisa temer porque ninguém vem conferir

os bilhetes à essa hora

existe todo um universo apenas peculiar

aos trens quando estão trafegando

(na gare é outra história)

como os lustres nos vagões

que nos trazem o barroco, de tão retorcidos,

apesar de estarmos em 1947

nem vamos falar do maquinista

que não dispõe de computador

e nem a sua potente máquina

a óleo diesel disso necessitaria

enquanto não tenho uma revista pra alcançar

e nem a cama do vagão dormitório,

vou até à sacada entre um vagão e outro

pra ver se a escuridão passa depressa,

com a mesma celeridade do trem...

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 11/01/2012
Código do texto: T3434082
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