Meu Tempo

Meu Tempo

Remotos anos sessenta

De lá pra cá tanto mudou

Muitos nem existem mais

Quantos o tempo apagou...

Naquela era eu nascia

Acreditava que vinha

Voando em bico de cegonha

Temia às carantonhas

aos mamulengos e às carrancas

Tomava susto e tremia

de histórias de assombração

que os mais velhos contavam

e sem dar um pio eu ouvia...

Sandália era chinela

Tranca de porta, tramela

Fruteira era gamela

Gillette era navalha

Saco de açúcar virava toalha,

Lençóis, roupas e mortalhas,

travesseiros de macela.

Existia o lambe-lambe,

O amolador de tesoura,

O caixeiro viajante,

O vendedor de cuscuz...

Ainda se usava candeeiro

Cofrinho era mealheiro

Prateleira tinha chapuz...

O tempo correu, deixou tudo pra trás

Lembro-me das coisas que não vejo mais:

Radiola de ficha, moedor de carne

Tempero pilado, coador de pano.

Orelhão de ficha, café bem torrado

Carrinho de lata, boneco de Pano

Colcha de retalhos, bola de mulambo

Telhado de palha, casebre, mocambo

Varal de cordel, sacos de papel...

O cordão barbante, a concha de quenga

Bonecos gigantes, uvas agostenga

Remédio caseiro, água de quartinha

Panela de barro, quermesse, lapinha

As placas de carro eram amarelinhas

Brincava de esconde, de pique e de pega

roda, cabra-cega,

trinta e um alerta, corda e cirandinha.