Quase sem dor

Homenagem à minha mãe "Dona Preta "

O som da chuva caindo no telhado

Transporta-me para tempos passados

Crianças risonhas, ingênuas e peladas

Correndo dentro de valas de enxurrada

O trovão assusta, mamãe fala

“Olha o raio” crianças danadas

Testa enrugada sai da sala

Ha! Teimosia é surra de vara!

Corre um pra lá, outro pra cá

O Chicote chia... “vem aqui já”!

Maninha chora, esfrega os olhinhos

O cachorro late e sai de fininho

Cabelo escorrido na cara

Olhos vermelhos, arrepios de frio

Então mamãe pára e repara

“Vai já, tomar um banho quentinho”!

Cheiro de açúcar queimado

Leite no bule com casca de canela

Fogão de lenha, labareda alta

Borbulha tudo em preta panela.

Lá vem um lindo anjo

“Tá docinho e bem quentinho”

Faz cafuné e dá carinho

É mamãe com seu jeitinho!

Olho pela janela e a chuva foi

O que importa? Ela está morta!

E muda e triste compreendo tudo

É só o amor.... Quase sem dor!