VIDA SEM IGUAL

Pai, não esqueço do táxi que pegava,

sem condições de pagar a corrida

para de noite me levar ao hospital,

e aliviar a crise que me deixava mal.

Humilhava-se pedindo emprestado,

mas em casa não faltava comida,

nem camisa para si comprava,

mas honrava seu nome e tudo pagava.

Perdoe-me a fuga de casa,

foi loucura, infantilidade descabida,

tortura que lhe dei sem motivação,

dor que sempre carregarei no coração.

Seu silêncio freqüente

gritava aos ouvidos da gente

uma súplica de carinho e amor.

Quis ver e viu os filhos formados,

com orgulho falava dos filhos militares,

e se juntava a pobres coitados,

bebendo escondido nos bares,

tentando esquecer as dificuldades da vida,

ou mesmo a solidão tão sofrida,

e quando eu chegava naquele lugar:

seus olhos brilhavam a se emocionar;

bebíamos cerveja, rolava uma prosa;

parecia bobagem, mas era seu jeito de amar.

Pensei ter te dado de presente,

duas viagens a sua terra natal,

mas o presenteado maior fui eu,

que jamais ganharei algo igual.

No desejo de não dar trabalho,

tantas vezes a dor engoliu a seco,

foi forte, nunca teve medo,

acreditou na sorte, desde muito cedo.

Não medi forças para buscar sua cura,

mas a loucura da vida não ajudou,

a intenção foi fazer o melhor possível,

mas o impossível foi só o que lhe faltou.

Meu Pai, a honestidade e a franqueza,

a sinceridade e a pureza,

e a força na fraqueza,

rendeu-lhe a riqueza:

de uma vida sem igual.

César Albuquerque
Enviado por César Albuquerque em 04/04/2007
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