Maria dos Anjos

De barriga no fogão de lenha,

Com chinelo de dedo gasto pelo tempo,

A Maria dos Anjos segue seu caminhar.

Os tantos anos de vida

Já quase dobram o “Cabo da Boa Esperança”.

Contudo, segue firme em sua missão.

A de cuidar dos seus como lema.

Carrega no peito a força.

E nas mãos, os calos da experiência.

Traz n’alma os sonhos...

Com ouro e pó a adornar.

O ouro dos tempos de grande valia.

O pó do envelhecer quase solitário.

Tem alguns para chamar de seus.

Contudo, pouco se sente à vontade.

Gosta mesmo do piar dos pássaros.

E de sentar no degrau mais alto da escada.

Olhar o sol caindo, depois do trabalho.

Do trabalho dele e dela.

De moda de viola, pouco gosta.

Curte mesmo é as modinhas do seu tempo de menina-moça.

Quando arrancava suspiros dos moçoilos da região.

Casou-se com Augusto dos Anjos.

Mas, não aquele todo famoso.

Era apenas o filho do Afrânio da quitanda,

Sem muita freguesia a oferecê-lo como presente.

Teve Joana como sogra.

E Margarida como cunhada.

Hoje já enterrou todos,

Restando apenas a “sobrinhada”.

Não teve filhos para não estragar a beleza.

E hoje se arrepende toda.

Ficou sem a juventude.

E sem alguém para dizer ter embalado desde pequeno.

Vive no pé da serra,

Em meio a hortas e plantações.

Do pouco que ganha,

Sustenta a si e aos pombos.

Uns dois cachorros matreiros

A latir ao som da coruja velha.

E o chacoalhar das árvores na madrugada gelada.

Está no fim da jornada,

À espera do Deus Pai, Todo Poderoso.

Não sabe quanto tempo lhe resta.

Nem a quem deixará seu pedaço de chão.

Essa é Maria dos Anjos.

Viúva de Augusto dos Anjos.

Célebre pobre mortal sabe Deus do que...

Num fim de mundo onde o vento faz a curva.

De história peculiar.

Contada por alguém que se atreve em meio às linhas,

Para quem sabe, lá na frente,

Ter sua própria história em folhas de livreto...

HELOISA ARMANNI
Enviado por HELOISA ARMANNI em 29/09/2013
Código do texto: T4503169
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