ESTAÇÕES

Quando era criança
tive uma única amiguinha,
a quem os pequenos aprendizes
menestréis
chamavam de feijão preto,
devido à sua natural
cor.

Um deles era o mais-mais,
o bam-bam-bam do tênis rainha,
o dono da bola das peladas
na pracinha
e dos corações, ainda exangues,
das gatinhas;

e era também o que mais pisava
a carvoeira menina
a ponto de ela chorar escondida
– destroçada já desde
pequenina –,

como a querer se lavar
daquela tênebra coloração
negrecida,
porque, apesar de tudo,
ela amava aquele carinha.

Certo dia,
conversávamos e brincávamos
em nosso habitual canto,
quando ela,
radiante e todas dentes,
me dizia:

“Ando tão feliz,
ele não mexe mais comigo,
será que agora posso
me aproximar dele?”

E ela nunca soube,
com aquele puro coração
que tinha,
que, escondidamente,
era porque eu quase tinha feito
o guri engolir suas bolas
e seu tênis rainha.

Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 01/03/2014
Reeditado em 01/03/2014
Código do texto: T4711018
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