À BEIRA DO NAUFRÁGIO
Episódio verdadeiro da minha vida no barco que me trouxe de África pela primeira vez, quando conheci Portugal.
Fustigado por ondas alterosas,
O meu barco tremeu e gemeu
Da proa à poupa, de estibordo
A bombordo, falhou manobras.
Sem leme, sem rumo, à deriva
Ficou, à beira dum naufrágio,
Deixou-me receoso, eu temia
Vir a morrer, mau presságio.
O vento era intenso e ruidoso,
Vinha do Sul apressado, rumo
Ao Norte, fugia dum perigoso
Inimigo sem pejo nem aprumo.
O comandante e o telegrafista,
Incansáveis, pediram socorro,
Qual quadro negro, surrealista,
Tão chocante como indecoroso.
Finalmente, deu-se o milagre,
O mar acalmou,
E o vento amainou.
O barco se salvou da profundidade
Do oceano denso,
Tão mau e obsceno.
Ruy Serrano - 06.06.2014, às 00:15H