Já se vão vinte anos...
Já se vão vinte anos...
Há vinte anos você era sonho e eu já tinha dentro de mim todos os sonhos do mundo.
Há vinte anos você dormia, enquanto eu sonhava.
Sonhava de olhos abertos. E era eu mesmo, herói e vilão.
Eu flertava com o destino, fazia minhas apostas.
E Já se vão dez anos...
Já se vão dez anos desde que me tiraram o chão,
Ainda hoje eu não me lembro, como, nem o porquê.
Alias, hoje, me importa bem pouco.
Hoje, eu sou um espectro do que fui. Invisível. E, hoje, já não me importo.
Enquanto você dormia, eu já travava batalhas, construía castelos, via-os cair, construía e reconstruia de modo diferente. Perdi até as contas.
Há vinte anos, eu era a dose de sonho que cabe em cada ilusão, eu era o problema, a dúvida e a solução.
Há vinte anos enquanto você se aconchegava em um colo, quase paterno, eu voava com o vento.
Hoje os heróis são outros, os muros, altos, os ventos, do norte, falta vida, faltou sorte.
Mas, ainda assim, sigo do chão, ninguém me vê, ninguém me ouve gritar, não importa:
- Apenas confira os "flaps", garoto, acelere e puxe o manche, é a sua hora de voar!