AS RUÍNAS DO TEMPO

Eu passo pelas ruínas do tempo, por suas alamedas tão frias e sem sol.

Eu escuto gritos, que não reconheço, debaixo do céu escarlate

Eu me estremeço, eu aguço os ouvidos

Sinto meu choro, mas não vejo as lágrimas.

Os gritos de socorro permeiam hinos cantados por vozes fracas.

Os gritos são de socorro.

Os olhos da luxuria são dos olhos claros da vida e não das mulheres que me olham.

Acompanho o cortejo delas que passam nas ruas estreitas.

Eu as conheço todas, elas no entanto, não me veem e passam incólumes, sem qualquer emoção.

Estariam mortas?

O coro de vozes se fortalece e agora parece vir de dentro de mim.

Um canto arcaico, gregoriano de vozes fracas.

Elas se confundem agora com o vento que passa em uma rajada,

Porém sem me tocar.

Ele segue à frente de uma tempestade escura que passa ao lado, sem me molhar.

Ela carrega o amanhecer gelado e aterrador, que se vê nas areias sujas pelos gravetos e folhas arrastadas durante o temporal da noite.

O cortejo das pessoas passa agora rumo a uma praia deserta.

Eu o sigo de longe. As pessoas estão pálidas.

Parecem andar sem direção e qualquer propósito.

Rumam ao lado do bosque que engole almas. Sempre ouviu-se os grunhidos que vem deste bosque.

Estes homens caminham a uma certa distância, carregam ofegantes sobre suas cabeças, as enormes tábuas dos sentidos, sem que possam vê-las ou toca-las.

Eles andam em círculos!

Lembram-me do tempo dos antigos, em que se comemorava

O jubileu das almas que não mais podiam ser resgatadas

Esta ladainha tinham um ciclo choroso, das pessoas em torno de uma procissão cheia de lamúrias que não tinha meio nem fim.

Elas caminhavam para uma estrada do esquecimento,

Onde cavaleiros avançavam garbosos com seus cavalos paramentados e eu sempre me via no meio deles,

Paramentado passando pelas casas velhas sem pintura e pelas pessoas também velhas à porta de suas casas, com os olhos tão tristes quanto à cantoria em si.

Estas procissões, este vagar pelo passado, ainda na minha memória, são as ruínas do meu tempo, porque estão vivas no meu passado.

O passado é um tigre velho que ainda me assusta. Já o presente é um tigre com dentes de sabre que me cortam.

O futuro só existe na minha imaginação e nos meus medos, não nos meus olhos.

Tudo faz parte das ruínas que nos assombram e que continuará a nos assombrar enquanto estivermos vivendo apenas com as sensações que os olhos nos trazem.

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 25/11/2014
Reeditado em 23/01/2016
Código do texto: T5048067
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.