Cântico de Primavera

Cântico de Primavera

De nada sabíamos do mundo,

E nada queríamos saber;

Mas tudo sabíamos,

Quando fechávamos os olhos

E mergulhávamos na cisterna entre as baobeiras.

O céu azul claro,

Cheirava a cobertor e chocolate quente;

E aos cabelos molhados dela

Que dispersavam-se nos cantos da vó Lúcia pelas seis...

As goiabas verdes no fundo do quintal,

Tanto indagadas,

Sumiam com Janeiro e a primavera fértil

Nos ventos dos bolinhos de chuva

E os desenhos que iriam passar as oito...

Ali, tudo ecoava quando não era

A mobília impregnada de silêncios

Despreocupados, semipreenchidos

Nos cantos vazios dos pássaros;

De domingo e o céu azul

Que nada sabia que ainda era noite...

Nada passava além que o vento

E ele mesmo se perdendo,

Na formação dos olhos, submersos,

Onde já começavam esses outros;

Pois desde lá eu já sabia o que era o mundo...

Desde lá, onde o fundo dos olhos dela

Fragmentavam-se às minhas margens;

Quando os ônibus passavam

E o mundo se descobria

No medo de nunca mais nos vermos...

Desde lá... Quando entre um descanso e outro

Histéricos, parávamos pra olhar o céu azul

Venturando os sonhos nas nuvens mais fundas

Terminando em algum lugar distante

Sempre terminando em algum lugar

Distante dali...

De tudo o que restou foi só a terra morta, hoje

Dos sonhos realizados; que trazem tudo

Menos os beijos de despedida que nunca damos...

E que foram pra nunca mais com minhas dúvidas...

Sabe? Pensando bem

O problema não é o futuro,

Mas sim o passado e o que resta dele.

O que seria e o que foi: o que se perdeu

E todo o resto pra onde esvai-se os pensamentos...

Eramos verdes maduros,

Céu de sonhos nunca colhidos...

Hoje, tudo retorna

Menos aquela época em que nada retornava...

- Berserker Heart