Meu Vô

Como gigantes verdes espalhando graça
na paisagem seca, emoldurada pelos cata-ventos que
extraem vida do seio da terra para vida trazer a
quem precisa viver, são elas, lindas e imponentes
carnaúbas do sertão da minha infância, e com elas,
vi meu vô indo, ao longe sumindo, perdendo-se no mundo,
como um vulto vestido em branco e linho,
com seu velho chapéu de palha, vi da janela,
nas paredes rebocadas em barro, meu vô muito lento,
atravessava o pequeno lago, como quem
ia para o nada. E no entardecer, feliz e abatido,
vi meu vô retornando, no seu branco linho,
agora encardido. Vi da mesma janela, nas mesmas
paredes de barro, corri ao seu encontro,
atravessei o pequeno lago, recebendo-o com carinho
e um sorriso bem largo, meu vô cansado.
Com seu velho chapéu de palha, enxada na mão,
mãos calejadas, suor no rosto, bornal vazio
e muita história pra me contar. Vi meu vô, da roça
e da labuta para mais uma noite descansar.
Mas vi meu vô partindo, sem dizer-me se iria voltar,
como quem escrevia no céu o seu próprio destino,
sem que eu soubesse, pois eu era apenas um menino,
se comigo um dia ainda, meu vô iria brincar.
Eu vi meu vô, como sempre sorrindo, partindo,
para com Deus se encontrar.
 
Homenagem ao meu avô João Novo, responsável pelos primeiros anos de minha vida. 
Mário De Oliveira RSA
Enviado por Mário De Oliveira RSA em 12/12/2015
Código do texto: T5477691
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