A Flor de Chanana

Menino, colhia da chanana as flores

Alvinitentes no pátio, às centenas...

Nunca busquei aferir-lhes os olores;

Colhia-as porque fascinantes, apenas.

Pelas manhãs, infalíveis, generosas,

Apesar de seco e cinzento o sertão,

Alvejam entre suas folhas viçosas...

Chegada a tarde, murcham todas...se vão...

Dava-as a minha mãe que, na mesma hora,

Depois de dizer, enquanto me abraçava:

"Você é outra flor!..." à Nossa Senhora,

Na cabeceira da cama, as ofertava.

Repentina emoção...inoculava amor:

O doce olhar da Santa que me fitava,

Ornada de flores - rosas eu chamava -,

E dos abraços de minha mãe o calor.

A desvendadora ciência, afinal,

Revela na chanana a damianina,

Princípios amargos, óleo essencial,

A pepsina, a resina, além da cafeína.

Para mim, contudo, seu melhor valor,

Mais que propriedades e resistência,

Beleza peculiar e persistência,

Está na sua eterna, inesquecível flor.

Guardiã do olhar piedoso de Maria,

Dos abraços ternos de minha mãezinha...

Evocação de genuína alegria,

Bênção de duas santas para a vida minha.

Sobral (CE), 15 de fevereiro de 2016.

Carlos Augusto Guimarães
Enviado por Carlos Augusto Guimarães em 15/02/2016
Reeditado em 19/05/2024
Código do texto: T5544255
Classificação de conteúdo: seguro